Alô Presidente!
As questões que dizem respeito aos generais estão a ser tratadas com toda a celeridade como nunca antes o foram. Talvez seja tempo de tornar a justiça numa prioridade tão importante como aquelas que têm andado nas bocas do país, embora com muita futilidade e muita má fé, misturadas com a gravidade e seriedade que assuntos tão trágicos não podem deixar de merecer.
A justiça, o seu estado deplorável e as consequências para os cidadãos e para o país, bem merecem uma intervenção presidencial, já que é a única que garante autoridade e legitimidade para que todos os agentes sejam obrigados a sair dos casulos dos seus corporativismos,
Diz o povo que há quem só se lembre de Santa Bárbara quando faz trovoada. É verdade que cai o carmo e a trindade quando acontece qualquer coisa de muito grave. Nessas alturas, só o governo, a sua culpabilização, consegue mobilizar os chatos do costume. Aqueles que só clamam por demissões, com um chorrilho de argumentos mais que estúpidos.
Três secretários de estado foram à vida por suspeitas de favorecimento da Galp. A justiça não surpreendeu com a pressa agora, ou a falta dela, em tempo oportuno. Como o tem feito em tudo o que diz respeito a certas pessoas ou entidades. Não vou mais além, porque basta relembrar os acontecimentos que de há muito preocupam o país
Em contrapartida, Luís Montenegro, Hugo Soares e Luí Campos Ferreira, todos do PSD, foram ao euro 2016, tal como os três ex secretários de estado. São deputados de relevo no parlamento. E as suas viagens e estadias foram pagas por Joaquim Oliveira, da Sport TV. Que pertence ao Média Group.
Holding que é dona da Sport TV, do DN, da TSF, do JN e O Jogo. Na prática, a grande maioria da informação em Portugal. Pergunto-me se a justiça não podia encontrar aqui um conjunto de interesses em favorecer aqueles deputados com ofertas iguais às dos governantes.
Ou não será que daí se pode inferir que a comunicação social está em peso alinhada com as posições do PSD, justificando as prendas que a justiça não valoriza. Não será certamente por causa disso que as relações da justiça com a direita são preferencialmente relevantes em relação, por exemplo, ao PS e ao governo. E é evidente o seu relacionamento com os meios de comunicaão social, com prejuizo para os visados em processos mediáticos.
A justiça, como tem sido frequentemente referido, é um factor fundamental para a vida do país. Até com influência fortíssima nas relações do país com o exterior. É um factor de estabilidade na vida das pessoas. Hoje, há muita gente que não acredita na justiça, tal é a sua demora e a ambiguidade de alguns dos seus resultados.
A situação da justiça tem-se sentido cada vez mais encostada aos ricos e poderosos. Estes raramente são condenados ou, se o são, as penas são irrelevantes em relação a outras em que os condenados não encaixam naquele sector da sociedade.
E já não há diálogo ou decisão governamental que possa resolver este imbróglio. Daí que, tendo em conta que há muitas deficiências no regular funcionamento da justiça, só a intervenção do Presidente, com a sua habitual serenidade e a sua já habitual intervenção em outros campos, pode acabar com vícios antigos e interpretações dúbias do que compete a quem julga que pode tudo.