De cara escondida
Mais uma vez os indignados dos colégios privados mostraram à evidência que, cultura democrática e bom senso, são coisas que não entendem. Porque só entendem que têm de comer do que gostam. Aconteceu ontem junto ao edifício onde ia decorrer o encerramento do Congresso do PS.
Para que as câmaras das televisões não lhes focassem as caras reveladoras dos seus desígnios, como que envergonhados da riqueza e do papel que estavam a representar, em nome próprio ou alheio, gritavam, buzinavam ridiculamente com cartazes em frente da cara.
Dizia um desses inteligentes manifestantes, que não percebia o motivo por que o mandavam para o desemprego. Não era certamente por falta de esclarecimentos do governo. É que só falta mesmo fazerem-lhe um desenho a tinta da china e colocarem-no onde ele tinha o cartaz.
Depois, é muito estranho, como é que um professor de estabelecimentos de ensino de excelência, não compreenda coisas tão básicas como interpretar a Constituição da República Portuguesa que qualquer mestre escola deve conhecer e ensinar aos seus alunos.
Mas, como recurso, pode ainda pedir aos professores do ensino público que lhe expliquem como é que eles próprios estão no desemprego aos milhares, há anos. E nunca pediram o encerramento dos colégios.
Enfim, lá que haja, ou possa haver ignorância em gente tão qualificada, ainda tem de se aceitar, tendo até a magnanimidade de lhes perdoar todos os excessos de verbalismo primário. Mas não devia ser aceitável que haja deputados que defendam a progressiva substituição do ensino público pelo privado. Privado que aceita não sobreviver sem a ajuda do estado.
Liberdade de escolha, sim. Nem nunca esteve em causa. Quem quer privado, pois muito bem: que o pague. E não há que criticar quem escolhe. Cada um é livre de escolher. Não pode é escolher uma opção paga por terceiros. Eu também gostaria de comer lagosta e caviar todos os dias, desde que não fosse eu a pagar. Alguém está disposto a ajudar-me?