DEMOCRATAS DE HOJE
Com o aproximar das comemorações do 25 de Abril levantam-se vozes sem conto, em defesa das virtualidades e das frustrações que a revolução deixou, passados estes quarenta anos que já lá vão.
Ainda não vi alguém pronunciar-se abertamente em defesa da sua condição antidemocrática. Mas, havendo-os, só pode concluir-se que, também eles, se consideram democratas, alguns até dos melhores.
Temos portanto várias espécies de democratas, principalmente agora. Nesta conjuntura e nesta democracia minimalista. O mais curioso é o modo como alguns se referem aos democratas a sério.
O país teve, e tem, muita gente de todas as classes sociais que sempre se nortearam por esse ideal de aceitação e de respeito por todas as ideias, ainda que elas colidissem frontalmente com as suas.
Tivemos governantes que, independentemente de erros cometidos na governação, sempre foram grandes democratas. O mesmo se pode dizer fora da governação. Na vida pública ou privada.
Hoje, notoriamente, vemos por todo o lado, uma espécie de democratas que não aceita quem pensa diferente deles. E logo os define como os irresponsáveis causadores de todos os males do país.
Essa espécie, que se julga intérprete da democracia perfeita, não tolera a democracia dos outros. De tão perfeitos que são, não prescindem da obrigação da própria democracia se lhes subordinar.
Mas convivem bem com tudo o que a verdadeira democracia não permite. Com a corrupção à cabeça. Com milhares de milhões a fugir dos cofres do estado para os bolsos dos próximos do poder. Sem pio.
Os que culpam o 25 de Abril pelo estado do país, deviam saber que o 25 de Abril não governou, nem quem o fez teve essa intenção. É fácil concluir que os militares não falharam. E nem só os governantes.
Os críticos da revolução dos cravos, bem podem meter a mão na própria consciência. Para que mostrem a sua contribuição ou o seu ataque aos objetivos perseguidos. Mas, a hipocrisia não o permite.