DOIS SONHADORES
Portas e Seguro têm ambos a mesma fixação pelo poder. Portas já teve várias oportunidades para lhe conhecer o gosto agridoce. Seguro não suporta que lho queiram negar, quando o julga tão perto.
Portas lamenta que só tenha sido chamado a governar em momentos difíceis e em posição de não poder tomar as decisões que, para ele, seriam as adequadas. Daí que julgue urgente tirar-lhe o vice do cargo.
Seguro tem a mesma fixação: ser primeiro-ministro. Ainda não pensou como vai conciliar essa função com as permanentes viagens pelas capelinhas de todo o país, para segurar a clientela tipo rural.
Portas tem uma clientela mais virada para o negócio urbano e vinda de dependentes do estado. Estado que ele promete a todos, mas que corta, logo que apanha uma tesoura à mão. Corta tudo o que diz dar.
Ambos vivem na sombra de Passos. Ambos disputam essa sombra passo a passo, com a obstinação de acabar com ela e criarem a sua própria sombra. Para que sejam outros a desejar abrigar-se nela.
Portas não tem nada a ver com Passos. Anda à boleia dele à espera de poder vir um dia a conduzir o veículo que partilham. Seguro tem tudo a ver com Passos. A mesma escola, a mesma conversa. Gémeos.
Passos e Seguro não têm bases. Andam pendurados no país. Nem os dois juntos fariam algo de útil. Portas tem base a mais e demasiada conversa, mas norteia a sua orientação por uma bússola avariada.
Seguro talvez sonhe muitas vezes com Portas. Este, por sua vez, sonha com todos os que lhe possam dar a mão para apanhar o transporte. Sempre na espectativa de passar a ser ele a conduzir.
Portas parece estar a perder o gaz da euforia da reconquista da soberania. Seguro parece estar a sofrer a ironia de um futuro que já vivia. Tudo aponta para que, um dia, o país acorde numa outra via.