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afonsonunes

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03 Nov, 2014

E AO TERCEIRO DIA

 

Enquanto em Bruxelas as arrumações ocuparam afanosamente toda aquela gente que acabava de se instalar, em Lisboa e em Belém a azáfama não era menor, só que com muito menos gente envolvida, mas mais ativa.

Em Bruxelas devia estar tudo desarrumado, o que deixa supor que os que saíram deixaram tudo de pantanas, a avaliar pela quantidade de caixas e caixotes envolvidos. E deixa supor ainda que quem saiu, saiu contrariado.

Já em Belém estava tudo arrumadinho, apesar de ter havido aquela pressa impressionante de resolver o problema ao terceiro dia. Aposto que houve alguém que veio de Bruxelas sem a mala, para não faltar à cerimónia.

Justificada está a desarrumação que por lá ficou. Não houve tempo para mais. Em contrapartida, foi compensadora a narrativa que perpassou pelos salões. Portugal é um país que ainda tem um génio no ativo. Ele.

E foi ele que teve a força e o jeito de fazer a obra de que todos nos devemos orgulhar. E de deixar o legado de que a Europa que temos hoje é o orgulho de todos os europeus. Mas, sobretudo de todos os portugueses.

Estava lá a família do progresso e da felicidade que se vive por cá e por lá, sob o signo benigno da laranja. Lá fora, o país está hoje sob aviso laranja da meteorologia. Mas lá dentro, o ambiente é propício a calorosas tiradas.

É uma pena que ele tenha decidido, contra a vontade de toda a gente, deixar a Europa numa orfandade e num vazio totais com a sua fuga incompreensível. O país não deixará de sair à rua para o demover a ficar.

Ficar ou não ficar eis a questão. Fugir ou não fugir eis o dilema. Da outra vez e de agora. Porém, tinha desde então um profundo peso na consciência. Hoje ficou aliviado dele. Afinal, o país compreendeu a fuga.

Não vai ficar ali, onde esteve hoje, a ouvir a sua glorificação, mas vai ficar onde possa fazer muito mais pelo mundo inteiro. À escala do seu incomensurável valor e talento. Ele não pode ficar arrumado no seu canto.

Alguns menos atentos podem pensar que ele, ao terceiro dia, ressuscitou. Por tudo o que lhe foi dito hoje, por entre algo que até desejaria esquecer, ele convenceu-se de que fez muito mais e melhor do que nunca pensara.