É ou não é?
Toda a gente, culta ou ignorante, gosta de meter a colher em todos os pratos e até, se possível, em todas as panelas. Isso é terrivelmente compensador pois os especialistas de qualquer matéria têm a vida bastante simplificada.
Eu, por exemplo, adoro meter a minha colher em tudo o que cheira a esturro, ajudando os melhores chefes e cozinheiras a tomar medidas tendentes a que não se distraiam enquanto têm os fogões acesos.
Mas vamos ao que me trouxe aqui hoje. Está prestes a sair mais um Orçamento do Estado para o próximo ano. Há muito tempo que o país político, religioso, ateu e até mesmo neutro, se aventura a mandar cá para fora as suas medidas indispensáveis para que o povo no seu todo o aprove.
Isto significa que toda a gente está em condições de conhecer as implicações dessas medidas em todo o universo da população portuguesa. Não há aqui qualquer possibilidade de alguém estar a puxar a brasa à sua sardinha.
Obviamente que os políticos são os primeiros a manifestar o seu interesse em discuti-lo, daí que aprovado o de um ano qualquer, logo começa a discutir-se o próximo. É pois uma matéria de excelência para excelentes discussões. Mesmo que ninguém se demita, nem seja demitido.
Também é um assunto religioso, ou não sejam os religiosos ótimos políticos dentro das suas atividades fora das missas, das igrejas e das capelas. Mas quantos deles são também jornalistas e, ou, diretores de jornais, nos quais introduzem comentários ou artigos em que ensinam os políticos e os governantes a serem um exemplo para os fiéis cidadãos.
Aposto que os políticos também ensinam muitos religiosos a não se meterem em jornalismo de interesses, deixando esse tipo de informação exclusivamente para os profissionais, criticando cada um as misérias dos outros, deixando de fora as exclusivamente suas.
Parece-me até que a pedofilia na Igreja em França, agora na ordem do dia, é um bom exemplo. O assunto é escabroso mas, atrevo-me a pensar, só a pensar, que o fenómeno não é exclusivo do clero francês.
Porém, o Papa Francisco já demonstrou que tem vergonha do que se passou, o que não aconteceu com o clero desse ou de outros países do mundo inteiro. Logo os jornalistas, ou diretores de jornais, ou comentadores, todos ligados ao clero, não se metem nisso, como se metem na política.
É, ou não é? Toda a gente fala do OE, mas pouca gente fala de pedofilia. Talvez isso queira dizer que toda a gente sabe muito mais de economia do que de pedofilia, nomeadamente, como assunto de conversas de café, de púlpitos ou de comícios.
Ainda sobre o OE o Presidente Marcelo começou hoje a ouvir os partidos. Pura perda de tempo. Com tantos recados que já ouviram do presidente, já não devem saber o que fazer na aprovação do OE. Apesar de quase todos concordarem com os recados, na parte que lhes interessa, que é a dos recados ao governo. Com tanta sabedoria em orçamentos, feliz está o ministro das finanças, Leão, que quase nem teve que mexer uma palhinha para que o OE aparecesse feitinho.
É, ou não é? Obviamente que é, ou não fosse o presidente a determinar o que se deve fazer, com exceção daquelas pequenas coisas, da justiça, do futebol, das touradas, da caça, dos jornais, das televisões e do tempo, de que o S. Pedro não abdica.