FILHO
Filho de peixe sabe nadar, viva ele onde viver, no mar, no rio ou no aquário, com escamas ou sem elas, com asas ou com barbatanas. E para viver, não precisa que, quem o desovou, carregue com ele ao colo.
Já os humanos não são assim. Filho de empresário, tem de ser empresário, a não ser que o pai consiga metê-lo no partido em que sempre militou. Com um empurrãozinho, depressa chegará a deputado. Depois se verá.
Do mesmo modo, filho de artista (ator, cantor, equilibrista), tem de ser artista. O pai lá se encarregará de tratar do assunto, pois ninguém melhor que ele conhece as reais virtudes do seu rebento. Para o sucesso.
Ser banqueiro, jornalista, futebolista, ou de qualquer outra profissão de nomeada, é coisa que não custa nada. Os dotes não se herdam, mas as heranças sim, valem vidas que nunca estarão ao alcance de todos.
Agora o que não falha, é filho de político ter a sina de ser político. Pode ter mil e uma ocupações extra. Mas todas derivadas. Todas com uma ligação direta ou indireta, àquilo que lhes ensinaram de pequeninos lá em casa.
Pois, eu sei que isso não é bem assim. Claro que não. É para isso que há exceções. Há banqueiros que não depositam, só retiram. Há jornalistas que não escrevem, só ditam. Há futebolistas que não jogam, só rasteiram.
Agora bom, mesmo bom, é ser político. Até eu gostava de ser político. E jornalista também. Tinha a certeza de ser bom, desde que fosse as duas coisas ao mesmo tempo. Assim, não fazia figuras tristes, comigo próprio.