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afonsonunes

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‘É talvez a ventania’ que amainou o panorama político nacional depois de ‘mas há pouco, há poucochinho’ os portugueses terem dado uma nega monumental na ida às urnas. E tanto se falou desse célebre poucochinho. Principalmente, todos aqueles que, à falta de melhor linguagem diária, não digerem geringonças nem poucochinhos.

Dessa triste manifestação de desinteresse pelos destinos das suas vidas, que tantos reclamam de violência de ventanias injustas, em contraste com a suave ‘balada de neve’, surgiu o milagre de uma mudança profunda e inesperada. O grande poeta Augusto Gil, terá previsto estas situações tão longínquas do seu tempo.

Foi uma balada sem neve, mas de uma suavidade altamente compensadora para quem não gosta de ventanias ruidosas, a roçar a violência verbal utilizada por quem não conhece as preferências dos detentores do poder que o voto tem.

E assim chegamos à balada do silêncio em que ‘nem uma agulha bulia’, como agora, com os barulhentos muito mais calminhos e calminhas, certos de que, excitados como estiveram, não chegariam a lado nenhum. E lá se iriam as ilusões de provocarem cambalhotas alheias.

Entretanto, ‘na quieta melancolia’ que se seguiu à ventania, surgiu a voz do providencial apaziguador saído das cinzas ‘dos pinheiros do caminho’. Marcelo de seu nome. Depois do cansaço dos beijos e dos abraços atirou-se a quem estava do seu lado direito e assustou os que estavam à sua esquerda.

Para quem é providencial apaziguador, surgiu nesta acalmia como um autêntico e imprevisto agitador. Mas não causou pânico, nem alarme, apesar do ditado que diz que quem não se sente não é filho de boa gente. O Rio turvou mas não inundou. Cristas de galináceos amareleceram mas não desmaiaram.

E foi assim que a esquerda se viu entre dois dilemas. Aguentar as incontinências de quem já não pode pensar rapidamente no que diz e no que faz, ou correr o risco de ver a sua comodidade democrática ameaçada.

Há coisas que se pensam mas não se dizem. Rio corre o risco de se afogar no meio das águas turbulentas da sua pertinência. Cristas, murchou as ditas e recuou estrategicamente na sua capoeira. Costa, não ouviu nada, como faz tantas vezes em situações semelhantes. Catarina e Jerónimo talvez tenham dito qualquer coisa sobre o assunto, mas não recordo nada de especial.

Quanto à comunicação social, de um modo geral, indignou-se levemente, pois, apesar de sentir o ‘desastre’ das consequências para os seus gostos, preferiram não levar muito a sério o ‘velho’ comentador, agora apenas com um sentimento de equilíbrio numa arbitragem desequilibrada.