Perplexidades
Em boa verdade estou mesmo perplexo. E o motivo, no meu razoável entender, é muito simples, óbvio e razoabilíssimo. Acabo de saber que reuniu hoje o Conselho de Estado e o Conselho Superior de Defesa Nacional e nos comunicados finais não vi quaisquer referências aos desastres da atuação dos membros do governo, das entidades intervenientes e responsáveis operacionais.
Não vi nenhuma referência a falta de lideranças, a incompetências, a preguiçosos no cumprimento de tarefas ou atrasos na tomada de medidas posteriores aos trágicos acontecimentos. Também não vi referências elogiosas a todos e todas que se esganiçaram a pedir demissões e condenações, além de quererem tudo resolvido e compensado, mesmo antes de se dominarem todas as chamas.
Também não ouvi qualquer referência nos comunicados dos Conselhos, aos acontecimentos de Tancos, que motivaram as mesmas reações dos mesmos inconsoláveis reclamantes. As minhas perplexidades têm a sua origem na contradição de dois fatores. Ou os Conselhos ignoraram as elevadíssimas preocupações dos reclamantes, ou entenderam que estes deviam ter estado caladinhos por irresponsabilidades várias e injustificadas.
Há ainda a possibilidade, que ainda não vi concretizada, de Passos e Cristas considerarem que os Conselhos são constituídos por pessoas menos esclarecidas que eles, para não dizer menos independentes ou inteligentes. Realmente, há gente que se julga acima de tudo e de todos quando se põe em bicos dos pés. Ou quando pôe a língua a varrer a boca de coisas que não consegue engolir.
É evidente que também há a possibilidade de os Conselhos terem demonstrado receios de que os partidos de direita amuassem e desencadeassem campanhas de difamação do tipo daquelas que fazem contra a geringonça e que tantos danos lhe têm causado. O país, aliás, corre o risco de sofrer grandes e gravosas perturbações, tal como acontecem por outras paragens do globo e para as quais não se vê solução, ainda que fique tudo devastado.