PIRES E TREMOÇOS
Pires é um prato. Um pratinho mesmo para gente miúda, quanto mais para gente crescida. Até para acompanhar uma cervejita, uma mini, por exemplo, o pratinho cheio de tremoços é um acepipe poucochinho.
Pires com um bifinho em molho à cervejeira, ou à Portugália, já dá para acompanhar uma caneca, se o dito for mais inclinado à cerveja que ao bife. Há quem prefira muita, com pouco, para que o espaço não escasseie.
E é aqui que chega o homem do pratinho com qualquer coisa dentro, mas com uma girafa na frente, loirinha, efervescente, apetitosa. É assim, tanto ao almoço como ao jantar. Porque quem não bebe bem, nada diz de jeito.
O homem pratinho, nesse aspeto, não deixa os seus créditos por mãos alheias. Entre refeições, não abdica ainda de uma média geladinha, ou de duas imperiais bem tiradas. Porque o dia é fértil em frutuosas conversas.
E, para falar bem e depressa, a garganta não pode dar sintomas de secura. Ontem foi a prova disso. O pratinho oleou a garganta à maneira e a conversa brotou como a espuma dos dois finos que nem tinham espinhas.
Há coisas que não se ficam por quem as usa. Há sempre alguém que gosta de imitar o que ouve e fazer o gosto à língua, repetindo a receita do pratinho. Mesmo que o bife seja sola e as cervejinhas estejam mortas.
Depois, lá tem de vir o dono da cervejaria apresentar desculpas aos incrédulos clientes pelas encharcadas conversas que saíram dali. É claro que o dono daquilo tudo, não foi esclarecedor, mas isso já é costume.
É por essas e por outras que a maioria dos portugueses ainda são um bocado conservadores. Alinham mais num bom vinho, agora são todos bons, que nas geladinhas mornas. É que as conversas são logo outras.