UMA VOZ CLARA
Ainda há jornalistas que se batem, escrevendo, por um Portugal diferente daquele que tem vindo a sofrer sucessivas tentativas de regresso aos arbítrios de tempos que se julgavam extintos desde o enterro da ditadura.
Pedro Marques Lopes, no DN, traz hoje mais uma denúncia da progressão deste estado de coisas. E já não é a primeira vez que aborda o tema e se mostra preocupado pelo estranho desinteresse que causa a muita gente.
A muita gente e a instâncias como o PR e o PS que, normalmente, não deviam cansar-se de denunciar a perigosa deriva do poder. Pedro Marques Lopes tem insistido no silêncio que cobre esses vários arbítrios.
Arbítrios que lentamente, mas de forma sistemática, vão mudando o rumo da cidadania, ao permitirem uma longa lista de atropelos a direitos e liberdades que se julgavam consolidados há muitos anos. Que vão caindo.
Diz o citado jornalista que o mais preocupante é, precisamente, não haver reações sérias ao nível dessas agressões à democracia e ao estado de direito. Por estar a tornar-se vulgar substituir a lei pelo que se diz na rua.
E, estranha o jornalista, vir esse ataque de ‘detentores do poder político e judicial’. ‘Mas o pior de tudo é como a comunidade parece aceitar todos estes atropelos e toda esta ausência de decência...’ Isto ‘assusta’ mesmo.
Mas, conforta que ainda haja quem lute contra a maré negra do culto da mentira oportuna e premeditada, da provocada desinformação e do constante aproveitamento do comodismo de quem só sabe o que ouve.
Nem sequer é preciso saber ouvir. Basta não ouvir apenas o que convém. Ouvir é como ler. Aprende-se sempre. Desde que se leia e se oiça de tudo. Só assim se aprende a selecionar o que é claro, do que é claramente fusco.